terça-feira, 24 de março de 2009

Fitter Happier

I don’t know. There’s always a new Nirvana album to look forward to, or something happening in NYPD Blue to make you want to watch the next episode.” ("Sei lá. Tem sempre um disco novo do Nirvana pra te deixar ansioso ou alguma coisa acontecendo no NYPD Blue que te faça querer ver o próximo episódio.” Tradução livre.)

Essa frase do Will, dita lá pelas páginas finais de Um grande garoto (About a boy, Nick Hornby), resume de maneira precisa a minha existência. Funciona assim: vale a pena acordar todas as manhãs porque sempre haverá um filme novo do Woody Allen, um livro do Murakami que acabou de ser lançado, um show do Leonard Cohen em algum canto do planeta e assim por diante. Tem a Gigi também, claro, mas essa é outra história.

Ou seja, basicamente, a razão de tudo é a tal da cultura, pop, rock, punk, whatever; são eles, os livros, os filmes, os shows, os discos, que não me deixam pensar em enfiar a cabeça no forno.

Mesmo assim, até ouvir o ruído do portão batendo atrás de mim na noite de ontem*, eu não havia feito quase nada além de resmungar. Okay, okay, finalmente um show do Radiohead, mas, sei lá, domingão, chuvinha, preguiça, sono... Será que não é melhor dar meu ingresso pra alguém? Será mesmo que vai valer a pena ir até a tal da Chácara do Joquey?

O portão bate, eu desencano da frescura e começo a pensar em como chegar lá. Nenhum táxi no ponto mais próximo. Entro no primeiro ônibus que passa, desço na Rebouças e pego um táxi, aleatoriamente. A Rebouças termina e a confusão começa. Ligo pro Paulo, amigo que já está na Chácara, e aviso, otimista: tô chegando.

Trânsito, trânsito, trânsito. O taxista, um senhor “agilizadíssimo” e engraçado, odeia engarrafamentos; há anos trabalha só à noite e é assaltado com frequência. Prefere os assaltantes ao trânsito. Fazemos comentários maledicentes sobre a CET e falamos sobre a desorganização reinante. Uma hora depois de ter saído de casa, chego ao local do show.

Entro sem dificuldades, encontro os amigos, tomo uma cerveja, faço uma expedição até o banheiro químico e piso numa grama movediça que parecia estar se transformando numa fossa.

Volto pra pista e não muito tempo depois, quando o show do Kraftwerk acaba, começa a minha ansiedade. Boca meio seca, consulto o relógio de dez em dez minutos. A ficha caiu e eu confesso pros amigos que estou muito, muito ansiosa.

Nove e cinquenta e oito. Será que eles serão pontuais? Será que falta tão pouco? O “homem aranha” que mexia na parte de cima do palco já havia descido e os tubos que nos shows anteriores ficaram nas laterais já estavam nos seus devidos lugares, espalhados pelo palco. As luzes apagam para, logo em seguida, os tubos se iluminarem. A melhor banda do mundo é tão boa que nem o martírio da espera o público teve que sofrer: eram nove e cinquenta e nove quando eles pisaram no palco.

Pouco a pouco, começo a ser despedaçada. Estar num show em que The National Anthem, Karma Police, Weird Fishes/Arpeggi, Faust Arp, Jigsaw Falling Into Place, Exit Music (For a Film), Fake Plastic Trees, Everything in Its Right Place e Creep são todas tocadas é, pra dizer o mínimo, muita sorte.

Lágrimas? Claro. Começaram com Exit Music (For a Film), ameaçaram ficar incontroláveis em Fake Plastic Trees e desabaram em Creep. Aliás, quando o Thom Yorke disse "guess" e a música começou a rolar, eu não precisei adivinhar o que ia acontecer comigo.

O show acabou e voltar pra casa não foi uma tarefa fácil; mas, juro, tudo bem. Conseguimos fugir das imediações da Chácara do Joquey antes da madrugada terminar, mas, se fosse necessário, eu teria ficado sentadinha na calçada até amanhecer ou teria andado até a Rebouças procurando um táxi vazio, feliz e sem resmungar.

Mesmo num estado ainda indefinível (alguma coisa entre o feliz e o perplexo e bem próxima do sublime), não consegui deixar de passar o dia sem pensar no que vem por aí. Rock Werchter, Leonard Cohen, Tracy Chapman e, quem sabe, não dou sorte e topo com o Morrisey também. Sabe, a vida às vezes pode até parecer um pouco com a letra de Fitter Happier, mas, numa boa, assim como o Will, enquanto eu estiver ansiosa pelo próximo disco do Radiohead, vou manter a cabeça bem longe do forno.

* Este post foi escrito na noite de segunda-feira, dia 23 de março.

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