Trecho do Caminho Francês
Como eu prometi aqui, as dicas deste post tratam exclusivamente de duas questões básicas de sobrevivência: comer e dormir.
O Caminho de Santiago (Francês) conta com uma excelente estrutura para os peregrinos. Há hospedagem e alimentação para todos os gostos e bolsos. Albergues, pensões, pousadas, hotéis, campings e menus peregrinos em abundância contribuem imensamente para a tranquilidade da bicigrinação/peregrinação.
Eu e o Paulo não experimentamos muitos dos famosos albergues do Caminho mas podemos afirmar que eles são uma ótima alternativa de hospedagem, especialmente para quem está sozinho e não tem com quem dividir gastos; os albergues, sem dúvida, viabilizam a peregrinação (afinal, para fazer o percurso a pé desde Saint-Jean-Pied-de-Port, são necessários mais de trinta dias) e é maravilhoso que eles existam.
Nos albergues municipais (alguns incrivelmente estruturados, como o de Santo Domingo de la Calzada), a princípio, não se cobra pela hospedagem. Neles, o peregrino pode fazer uma contribuição voluntária no valor que escolher.
Já os albergues particulares cobram tarifas bastante acessíveis - mais baixas, inclusive, que as tarifas de hostels em geral - e podem ser mais confortáveis que os municipais.
Apesar de extremamente providenciais, os albergues apresentam algumas desvantagens que, no nosso caso, por interferirem diretamente na rotina da viagem, nos levaram a optar por outras formas de hospedagem.
Em primeiro lugar, fecham, em geral, às dez e meia da noite e, segundo relatos, após o fechamento, não há meios de entrar novamente. Para nós, que pedalávamos até oito, nove horas (era verão, demorava para escurecer e era maravilhoso pedalar enquanto a tarde caía), era muito complexo estarmos prontos para dormir às dez e meia!!!!!! Depois de "bicigrinar" o dia todo, precisávamos muito de um bom banho, um menu peregrino "harmonizado" por um vinho nacional e, para finalizar, uma caminhadinha pelos arredores para relaxar um pouco e explorar o local (essas caminhadas eram ótimas e, não raro, nos surpreendíamos com algo que estava rolando na cidade, como uma festa típica com touros de mentira em chamas correndo por uma praça).
Outro grande problema era a quantidade de pessoas alojadas num mesmo quarto; descobri que vinte pessoas dormindo equivalem a uma orquestra, cuja sinfonia me acordava por volta das duas horas da madrugada e não me deixava mais dormir.
Para quem está em busca de maior liberdade e privacidade, acampar pode ser a solução; poucos dias antes de viajar, desistimos de levar a barraca pois as informações que encontramos sobre a viabilidade de fazer o Caminho acampando não nos convenceram. Posteriormente, viemos a saber que a Eliana Garcia e o Rodrigo Telles, fundadores do sensacional Clube de Cicloturismo do Brasil e fabricantes dos alforges e equipamentos para cicloturismo Arara Una, haviam, poucos meses antes de nós, percorrido o Caminho de Santiago acampando. A seguir, duas fotos gentilmente cedidas por eles:
Foto: Rodrigo Telles
Foto: Eliana Garcia
Com relação a nós, experimentamos praticamente todos os tipos de hospedagem: albergues (poucos), pensões, pousadas e hotéis e, no cômputo geral, todos, a seu modo, corresponderam e, não raro, superaram nossas expectativas. Eu indicaria todos os lugares em que ficamos, com destaque para os seguintes:
Duques de Nájera, em Nájera: no passado, o prédio foi um palácio. Excelente recepção, conforto total e linda decoração (tivemos um surto de alegria fashion quando abrimos a porta do quarto). Vale mais do que custa.
La Puerta del Perdón, em Villafranca del Bierzo: acolhida simpática, um restaurante que não tivemos a sorte de experimentar devido ao horário em que chegamos, o melhor bolo de café da manhã de toda a viagem, quartos temáticos confortáveis e decorados com capricho. A cidade é um show à parte.
La Puerta del Perdón
Hotel Jakue, em Puente la Reina: hotel e albergue, que fica junto do hotel. Optamos pelo albergue que, para nossa surpresa, tinha quarto duplo com banheiro por um valor pra lá de camarada. O menu peregrino servido pelo hotel era, na realidade, um buffet peregrino, com pratos e sobremesas deliciosos.
Hotel La Puebla, em Burgos: excelente localização e funcionários gentis, educados e descolados. Apesar da edificação não ter muito espaço sobrando, as bicicletas foram excepcionalmente bem recebidas.
Em nenhum momento, tanto ao longo do Caminho Francês quanto do Caminho Português, tivemos problemas com as bikes; mesmo em cidades maiores, como Burgos, León, Santiago, Porto, onde há menos espaço disponível nos hotéis, as bicicletas foram bem acolhidas (foram acomodadas em escadarias, saguões, depósitos etc., numa boa). Perguntávamos se elas eram aceitas e, imediatamente, ouvíamos um "sim".
Burgos
León
Santiago de Compostela
Porto
No quesito alimentação, o Caminho Francês é uma maravilha gastronômica. Os menus peregrinos, compostos por cesta de pães, uma garrafa de água, outra de vinho, entrada, prato principal e sobremesa, são uma boa demonstração da culinária local, consistente em pratos formulados com frutos do mar, pescados como truta e bacalhau, legumes e verduras frescos e saborosos, carne de carneiro, entre outros. Os pratos variam à medida que se muda de região e que se aproxima de Santiago. O preço também é variável: entre nove e treze euros por pessoa (o mais comum eram dez euros), valor que, inclusive, é bastante inferior ao dos menus turísticos existentes em algumas cidades da Europa, os quais, a propósito, não costumam incluir bebida.
Em León, não deixe de visitar o delicioso Café Gotico, cujo menu peregrino vegetariano contém pratos mais elaborados e muito bem preparados, além de vinho de qualidade um pouco superior.
Para comemorar a chegada em Santiago, corra para A Taberna do Bispo. Ambiente alto astral e tapas INESQUECÍVEIS. E, em se tratando de menu peregrino, o da Casa Camilo tem opções com frutos do mar que são de comer rezando. As mesas do pequeno terraço são excelentes para curtir o movimento da agitada Santiago.
P.S. Fotos Camila Guido e Pepê Esteves (com exceção, claro, das fotografias cedidas por Eliana Garcia e Rodrigo Telles).
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