quinta-feira, 21 de maio de 2020

Aos prantos no more (mas sempre um pouco)

Hoje estou desconexa. Desconexa? Sim, fragmentada. Como se cada parte de mim estivesse num lugar diferente. Um braço pra lá, outro pra cá, uma perna solta, a outra abandonada. E eu não estou encontrando as palavras para juntá-las. Nem tudo tem simbolização. Eu sei. Sabe, eu não imaginava que eu deitaria aqui hoje e choraria. É realmente sempre uma surpresa.

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Começou quando ela disse chega!, quando ela abriu a porta de saída do carro da vida dela e o empurrou para fora. Aquela coisa estática, fria, corrosiva e furtiva que sempre a encobriu com sua sombra mal dissimulada. Ela enxergava a covardia que aparecia como um monstro que aprisiona pequenas criaturas indefesas em gaiolas de aço. O asco e a curiosidade que isso provocava nela. Por que, se passarinho é para voar e gente é para amar? Por que ele nunca entendeu isso e sempre se escondeu atrás do discurso violento da indiferença? Qual era a parte que faltava? Ela repetiu um sem-número de vezes que preferiria ter apanhado. Preferia um tapa ao bater violento de portas trancadas com chaves guardadas a sete, oito, nove, dez chaves. Preferia qualquer coisa àquela loucura. Ou era perversidade? Ela não sabe dizer. Sabe só que mesmo sem sombra e com a porta fechada a alegria ainda dói um pouco. Tanto, que às vezes vira pranto.

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Chorar é extravasar o que nem as palavras podem juntar.


P.S.: O título deste texto é inspirado na música Eu Estou aos Prantos, de Letrux.

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