sábado, 10 de janeiro de 2009

"Um Homem Bom"

Rio de Janeiro. O céu está cinza e enevoado e chove sem parar. Preguiça de flanar pela cidade desviando das gotas e dos guarda-chuvas. É segunda-feira e o Centro Municipal de Arte com a exposição do Oiticica que eu adoraria ver está fechado. O MAM também. E agora? Agora vamos ao cinema, claro; é cedo e de repente dá para pegar duas sessões seguidas. Ah, maravilha!

Fechamos a programação e aportamos no Espaço de Cinema da Rua Voluntários da Pátria (um dos meus refúgios prediletos no Rio), onde, após termos percorrido as prateleiras do sebo que funciona ali, estamos prestes a “fazer hora” na livraria e café que fica ao lado do cinema quando vemos, afixado em frente à bilheteria, um recorte de jornal a respeito do filme Um Homem Bom (Good, 2008), do diretor Vicente Amorim.

Eram, na realidade, dois recortes. Um deles, uma matéria jornalística comum a respeito do filme e o outro, a coluna do Contardo Calligaris, publicada na Folha de São Paulo de primeiro de janeiro deste ano. Embora a nossa programação fosse outra, bastou lermos os recortes para decidirmos comprar ingressos para a próxima sessão de Um Homem Bom, que estava prestes a começar.

Ao entrar na sala, percebi que uma palavra, lida na coluna do Contardo, havia arrebatado um pedacinho dos meus pensamentos e, com eles, ia e vinha à minha mente, a todo momento. E foi assim que assisti ao filme, com a palavra complacência “pulsando” em mim.

Luzes acesas, nossa reação a Um Homem Bom foi a melhor possível; não bastassem a excelente direção de Vicente Amorim e as ótimas atuações (especialmente a de Viggo Mortensen), o roteiro, por si só, já valeria a ida ao cinema.

Saímos do Espaço e nos pusemos a caminhar sob a chuva em direção à Praia de Botafogo, para mais uma sessão em outra sala. O filme da vez era Gomorra (2008), que, depois de Um Homem Bom, acabou ficando completamente ofuscado.

São Paulo, sábado. Fim da primeira semana “útil” do ano e aquela palavra continua “pulsando”, insistente; com ela, cenas de Um Homem Bom surgem e se apagam. Não sei por quanto tempo ela vai permanecer junto a mim, mas, embora às vezes um pouco desconfortável, desejo, para o meu próprio bem, que a lembrança do que pode significar, no mundo real, a complacência, não me abandone tão cedo.

P.S. A quem possa interessar, o título da coluna do Contardo Calligaris a que eu me referi é “Um Ano Novo Feliz e Desconfiado”, onde ele deseja aos leitores “... um Ano Novo corajoso, sem as pequenas complacências do nosso dia-a-dia”.

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