terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Duas canções, dois livros

Estão na lista dos livros que, depois de lidos, ficaram grudados em mim (ver o post Os Companheiros, de 25 de janeiro de 2009), dois romances que, em comum, têm, além da delicadeza, beleza, pureza e tristeza de suas histórias, o fato de terem sido criados por escritores japoneses e, de alguma forma, estarem ligados a uma canção.

Kitchen
(Kitchen), escrito por Banana Yoshimoto - a escolha do pseudônimo, segundo ela, deve-se à beleza das flores vermelhas do bijinsho, a flor da banana -, é um livro conciso e, ao mesmo tempo, imenso. Composto por três pequenas histórias (Kitchen, Lua Cheia (Kitchen 2) e Moonlight Shadow), pode aparentar ser uma leitura rápida e eventualmente descartável (se é que isso existe), mas que, logo na primeira linha, me arrebatou e fez com que, ao longo das seguintes, eu me pegasse ouvindo um fio de pensamento que dizia: "Uau, ela surpreende o tempo todo com essas palavras simples e quase planas que, juntas, se transformam em parágrafos tão puros e complexos que chegam a doer!"

Kitchen
e Lua Cheia (Kitchen 2) são histórias interligadas, com os mesmos personagens principais; nelas, a comida, a cozinha, a morte, o amor e a solidão se misturam, formando um prato simples e sofisticado. Em Moonlight Shadow todos os ingredientes permanecem, mas os personagens e a inspiração da história são outros.

A letra de uma canção pop, de mesmo nome, escrita por Mike Oldfield, inspirou a criação do conto Moonlight Shadow, que, formado pelos mesmos elementos das duas outras histórias, é ainda mais bonito que elas.

Não me abandone jamais
(Never let me go), por sua vez, do escritor japonês radicado na Inglaterra, Kazuo Ishiguro, passou alguns meses na minha lista dos "próximos livros a serem lidos", até que, após deparar com exemplares dele em diversas livrarias, achei que eu precisava lê-lo.

Como disse a Fabi, amiga que chamou a minha atenção para o livro (e que me emprestou a sua edição), a história resvala a ficção científica, sem, contudo, focar-se nela; é possível, então, observar a técnica impressionante de Kazuo Ishiguro, cuja escrita perfeita permite que o romance mantenha o ritmo de mistérios e sucessivas descobertas até a última página, gravitando de maneira irresistível ao redor dos temas propostos (amor, perda, solidão, morte) sem que haja qualquer forma de dispersão para a ficção científica, que, dadas as circunstâncias da história, poderia facilmente roubar a cena.

Sobre o romance de Kazuo Ishiguro, é prudente notar que:

1 - é triste, triste, triste, triste (desculpem a pobreza de adjetivos, mas não há outro que descreva melhor o conteúdo do livro);

2 - ler os relatos da Katie, a personagem principal e narradora da história, é como ouvir a sua melhor amiga da infância, do jardim ao colegial, como quando vocês ficavam conversando no escuro sobre o presente, o passado e, principalmente, sobre o futuro e suas infinitas nuances, até adormecerem;

3 - essa familiaridade pode fazer com que você se sinta muito angustiado(a) com as circunstâncias da vida da Katie (tive dois sonhos claustrofóbicos e desesperadores enquanto lia o romance, mas isso não quer dizer nada, pois sou exageradamente sugestionável) e

4 - não leia nenhum comentário sobre o livro na internet ou em qualquer outro lugar; de preferência, deixe para ler as "orelhas" da edição que tiver em mãos depois que tiver terminado a leitura, pois uma crítica ou um comentário podem entregar tudo e estragar o prazer de encontrar, página após página, as respostas dos mistérios subjacentes a uma história irretocável.

No que se refere a mim, vou ficar quietinha. O título e a introdução do post entregam a canção, mas, no caso de Não me abandone jamais, quem vai ter que descobrir é você!

P.S.1 Quem me apresentou a Kitchen e a Banana Yoshimoto foi o Carlos (que também me emprestou o seu exemplar), que, com as suas dicas, faz da minha vida um lugar melhor onde existir.

P.S.2 Para conferir a letra de Moonlight Shadow, de Mike Oldfield, clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário