terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Uma Garota Dividida em Dois"

Foto: Camila Guido

Ao escrever sobre Bruges no post Em Bruges, de 12 de janeiro de 2009, eu cometi algumas impropriedades quando disse que a melhor parte do meu coração havia ficado perdida pela Europa.

A primeira delas diz respeito ao local da suposta "perda", indicado de forma genérica como sendo o continente europeu; já a segunda consiste na palavra perda, pois o melhor pedaço do meu pequeno coração não ficou perdido. Pelo contrário, ele não poderia estar em melhores mãos, guardado com mais amor do que eu jamais ousei imaginar, na (fofa) cidade de Aachen, na Alemanha.

Confesso, portanto, desde já, que há um inegável toque sentimental na minha opinião a respeito da cidade, mas, francamente, eu não diria para você inseri-la no seu roteiro se, a despeito de qualquer coisa, Aachen não fosse uma graça.

Aken ou Aix La Chappelle, em Holandês e Francês, respectivamente, é muito próxima da Holanda e da Bélgica (aproximadamente três horas de trem de Amsterdã e uma hora de Bruxelas, o que significa que, com mais uma hora, você pode desembarcar em solo francês e pisar em Paris) e, embora seja uma cidade relativamente pequena (259.344 habitantes, segundo a Wikipédia), é bastante movimentada.

De acordo com a quinta edição do Europe on a Shoestring, da Lonely Planet, Carlos Magno fez dela, em 794, a capital de seu império e, de 936 a 1531, trinta imperadores do Sacro Império Romano-Germânico foram coroados na catedral construída por ele e que é (talvez por não ser enorme) uma das mais lindas catedrais em estilo gótico que eu já vi.

Assim, em razão dos aspectos históricos e também devido a suas termas, à universidade, a algumas indústrias e à grande proximidade com outros países, Aachen é bastante agitada e diversificada. Bares, restaurantes (tailandês, japonês, colombiano, indiano, paquistanês, alemão - ops, quase esqueci -, etc.), monumentos e fontes tendo como ponto principal o pequeno centro antigo medieval fazem dela uma cidade sui generis e meio mágica.

Uma caminhada noturna pelo centro, ao som dos nossos passos, com a catedral a nos observar com a calma e a impassibilidade de um ser de centenas de anos (e a nos recordar, a cada vez que desviamos o olhar em sua direção, da sua beleza digna e estonteante), é uma experiência carregada de um certo encantamento, que vem acompanhado por aquela sensação de relatividade que temos diante de símbolos de espaço e de tempo infinitos, como, por exemplo, um céu estrelado.

Durante o dia, não deixe de entrar em um dos cafés ou casas de chá para se deliciar com as Printens - umas bolachinhas típicas que se parecem um pouco com um pão de mel - e com as tortas e bolos alemães. Digo isso porque, andando feliz e a esmo pelo centro, vi uma casa de chá repleta de velhinhos e velhinhas fofíssimos e irresistíveis (há centenas deles passeando pela turística Aachen) e de doces apetitosos na vitrine e não suportei: entrei. Após escolher um pedaço de uma torta de cereja sobre a qual, a princípio, eu não estava muito certa, fui informada de que, para também tomar um café, teria que me sentar no andar superior; subi e sentei em meio ao que me pareceu o mais alegre encontro de senhores e senhoras do planeta e, café e torta à mesa, fui tomada, imediatamente após o primeiro bocado de torta, pela mesma sensação que, acredito, o Scooby Doo tem ao comer os Biscoitos Scooby! Ou seja, após um processo de degustação acompanhado de levitação, saí do salão de chá me sentindo a mais feliz das mortais.

Agora, se você visitar a cidade durante a realização de alguma feira, considere-se uma pessoa de sorte. Enquanto estive zanzando de país em país, fui a algumas feiras de Natal, onde são vendidas comidinhas, bebidinhas e badulaques em geral, mas nenhuma chegava aos pés da de Aachen. Passei duas tardes e uma noite como boba, perambulando pela feira, onde até um ser rabugento e impaciente como eu com assuntos relacionados a compras (especialmente de pequenos objetos) conseguiu olhar todas as barriquinhas e ter vontade de adquirir praticamente tudo o que viu. Não bastasse o capricho das barraquinhas e dos artigos à venda, a feira é realizada no pequeno centro antigo, em meio a construções medievais, música, aromas de comidinhas e vinho quente. O que mais um ser humano pode desejar numa tarde fria de dezembro?

P.S.1 Há uma fábrica da Lindt em Aachen, onde você, caro consumidor e turista chocólatra, pode comprar quantos chocolates quiser por preços incrivelmente baixos. Tentador, não? Para ver a localização, clique aqui.

P.S.2 Para fotos de Aachen, clique aqui.

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