sábado, 14 de março de 2009

Shakespeare and Company

Foto: Camila Guido

Quem viu Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, 2004, Richard Linklater) vai se lembrar da cena em que Celine (July Delpy) e Jesse (Ethan Hawke), muitos anos depois da promessa feita em Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995, Richard Linklater), se encontram em Paris durante o lançamento do romance de Jesse na livraria Shakespeare and Company.

Foi por causa dessa história de amor que, durante minhas andanças pela cidade, resolvi sair em busca da livraria e, embora a procura fizesse parte do roteiro, acabei encontrando a Shakespeare and Company completamente por acidente.

A Cidade Luz já lançava seu brilho sobre a noite quando eu saí, em estado de graça, da Notre Dame - onde, durante a celebração de uma missa, um coro de mulheres cantava uma melodia maravilhosa que se misturava à luz emitida pelas chamas das velas e se espalhava pela atmosfera – e comecei a andar a esmo, indo em direção à esquerda após cruzar a praça da catedral; atravessei uma rua e pisei em uma calçada recheada de cafés e de parisienses animados e, um ou dois passos depois, vi um letreiro familiar com a inscrição Shakespeare and Company, caixas e banquinhas de livros na calçada e muito movimento. Esfreguei os olhos e abri um daqueles sorrisos que a gente dá pensando no destino, na fortuna, no acaso ou como queira chamar. Lá estava ela, a livraria onde Celine e Jesse haviam finalmente se encontrado e onde escritores como Hemingway - na época jovem e sem dinheiro - pegavam livros emprestados com a antiga proprietária, Sylvia Beach.


Foto: Camila Guido


Em Paris é uma festa (A moveable feast), Hemingway relata algumas conversas que teve com Sylvia, que lhe emprestava livros e estava sempre preocupada com sua saúde (para economizar, o escritor costumava pular algumas refeições); a Shakespeare and Company ficava, então, no número 12 da rue de l’Odéon e não no 37 da rue de la Bûcherie, seu atual endereço.

Assim como de local, a loja também mudou de mãos e não pertence mais a Sylvia Beach, que faleceu em 1962. Porém, quando se fala no nome da atual proprietária, pode haver alguma confusão: Sylvia Beach deixou a livraria para seu amigo, o americano George Whitman, cuja filha e hoje proprietária da Shakespeare and Company se chama, em homenagem a Sylvia Beach, Sylvia Beach Whitman.

Sobre a primeira Sylvia, vale dizer que, entre outras coisas, "editou, reimprimiu e publicou Ulisses para James Joyce em 1922 e teve sua livraria fechada pelos nazistas durante a ocupação por se recusar a vender a última cópia de Finnegan's Wake para um oficial". (tradução livre da sexta edição do Paris City Guide, da Lonely Planet)



Foto: Camila Guido

Para saber mais, recomendo a ótima matéria do O Estado de S. Paulo digital, do último dia primeiro. Quem me passou o link foi o Carlos e a única coisa errada com a minha visita à Shakespeare and Company é o fato de que ele não estava comigo. Mas eu volto, agora com ele, ainda neste ano. Para ler a matéria, clique aqui.

P.S.1 A sexta edição do Paris City Guide, da Lonely Planet, traz um roteiro literário que, para os mais obcecados (como eu), vale a pena conferir.

P.S.2 Para ver a cena em que Celine e Jesse se encontram na Shakespeare and Company, clique aqui.


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