segunda-feira, 2 de abril de 2018

No embalo de outros jeitos de usar a boca ou deixando que os dedos falem

será que você pensou que eu fosse uma cidade
grande o suficiente pra passar o feriado
eu sou a cidadezinha ao redor dela
aquela que você talvez não conheça
mas sempre atravessa
aqui não tem luz de neon
nem arranha-céu ou estátua
mas não vai faltar trovoada
porque eu deixo as pontes trêmulas
eu não sou carne de vaca sou geleia feita em casa
firme o bastante pra cortar a coisa mais
doce que sua boca vai tocar

                  Rupi Kaur, Outros jeitos de usar a boca


Primeiro Ato

O indizível estava lá o tempo todo. Começou com um gesto forçado e um tropeço. Uma definição bruta do que se faz e algo tão potencialmente humano é atirado em meio ao movimento e às luzes como um excremento ao qual não se dá valor. O lugar da mesa junto a um respiro incômodo. Ruído. A cada gole o real se insere com mais força no discurso e revela trechos de um eu estranho ao personagem. O palco assume um cenário indistinto, dominado pela tensão daquilo que viria a ser. Incerteza que o último gesto realizado à mesa apenas reforça.

Intervalo, onde tudo se inscreve

Quando não se tem o registro de uma situação, você mal consegue encará-la nos olhos. 

Segundo Ato

A cortina volta a se abrir, só que dessa vez não há palco. A realidade despenca em meio à fusão dos personagens e o indizível se concretiza em atos. Crueldade é aquilo que se produz na ausência de compaixão.

Fim.

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