"Nothing makes sense anymore."
Jojo, a certa altura do filme, para seu amigo Yorki.
Levo uns segundos para entender o que está acontecendo mas, assim que a ficha do jogo de som e imagens cai, penso, putz, que sacada! Isso é Psicologia das massas e análise do eu na veia!
É assim o início da minha experiência com Jojo Rabbit, um filme que se vale da sátira, do surreal e da inteligência para mostrar algo que, justamente pelo formato, atinge em cheio (espero) o espectador.
Durante o filme, entro na onda do protagonista e começo a fantasiar, não com um amigo imaginário, mas com uma entrada relâmpago de Jojo Rabbit em cadeia nacional, bem ao modo de uma intervenção mais do que necessária.
O filme termina e as palavras que saem, baixinho, da minha boca, não se ajustam às que eu ouço. Ops, em alemão não rola. Sinto muito, Bowie, mas dessa vez não consigo te acompanhar.
Não canto mas, livre, também eu saio do cinema dançando.
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Há determinados acontecimentos da complexa e às vezes demasiadamente surreal história humana para os quais sou bem bundona. O Holocausto é um deles. Minha covardia é tamanha que, mesmo sendo uma leitora obsessiva compulsiva (eu dava um jeito de ler meus gibis no chuveiro quando criança), nunca tive coragem de ler O diário de Anne Frank, assim como nunca tive coragem de visitar um campo de concentração durante alguma viagem. Certa vez, porém, em Amsterdã, após muitas discussões internas, resolvi que iria encarar uma ida ao Museu Anne Frank (Anne Frank House).
No museu, à medida que transitava pelos cômodos na ordem estabelecida para a visitação, passei a pensar, mas que bobagem, não acredito que eu estava com medo, nada a ver, até que é tranquilo, desnecessário todo o drama que eu fiz etc. Imbuída desse espírito okay, fui passando devagar pelos cômodos até alcançar o último, onde, sem aviso, comecei a chorar, ou melhor, a soluçar. Hoje, revendo aquele momento, tenho a sensação de estar ali em pé, sozinha, sem lenços suficientes, com o rosto todo encharcado e melado, num desamparo que muito provavelmente nem sequer encosta naquele no qual se viu a família que morava naquela casa.
A exposição estava organizada de maneira similar àquela pela qual o ódio aos judeus, com todas as suas consequências, foi sendo naturalizado e institucionalizado na sociedade alemã quando da ascensão do nazismo, ou seja, gradualmente, por meio de proibições que de início pareciam não serem assim tão absurdas e que foram se agravando e se tornando cada vez maiores (e mais surreais).
Até que os judeus perderam, para aquela sociedade em transe hipnótico, o direito de existir.
Até que os judeus perderam, para aquela sociedade em transe hipnótico, o direito de existir.
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Moral da História:
um absurdo nunca é só um absurdo.
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