Vejo o clube por dentro, vazio. Estou numa espécie de ilha de edição e é de lá que eu o vejo e falo com alguém. Talvez comente o fato de que está vazio, só as cadeiras dispostas no salão, arranjadas em filas, como numa igreja ou num auditório. O clube é amarelado e tem a atmosfera da capa do disco da Marina Lima, Abrigo. As pessoas na ilha de edição, duas além de mim, não têm rostos conhecidos. Eu mal vejo os seus rostos. A entrada do clube é pomposa e também está vazia. No salão há uma passagem para os fundos, pela qual ninguém passa. Como se a passagem pudesse ser utilizada só de fora para dentro ou como se fosse inútil, só um detalhe, ou um entalhe. Nos fundos há outro ambiente, aberto, mas que ainda conserva o mesmo tom amarelado do interior e da entrada. Há pessoas lá, e uma piscina. Eu estou na piscina? Quem são aquelas pessoas? Há crianças, barulho, água sendo jogada para cima. Não, eu não estou lá, eu continuo na ilha de edição. Depois uma garagem. Agora, um portão branco, vazado em alguns trechos. Muito branco. A garagem é larga mas não muito grande. O interior da casa parece escuro. Fora há sol. Não há carros na garagem, só um fora dela. Há pessoas na garagem, concentradas num lado dela. Uma garagem como a de casas conhecidas da minha infância, onde eram feitas festas de aniversário. Há apreensão no ar, mas talvez também venha a haver uma festa. Quem sai abre o portão, que já está meio aberto, mas nunca completamente. O cachorro não pode sair, alguém diz. Mas quem está saindo? O portão é irregularmente vazado. Alguém, um homem, que passa pelo portão a fim de sair, o abre e o recolhe com a mão, a qual eu noto com atenção. Ele fala algo e sorri. Alguém, eu talvez, ou uma outra mulher, fala com ele. Ou falamos ambas. E as pessoas no canto falam de maneira difusa, às vezes olhando para a cena central. Estou de volta ao clube, agora na entrada. Há duas pessoas em pé na porta e outras me acompanham. Agora estou lá. A porta está aberta, não há porta, e sim uma entrada de alvenaria arredondada à minha esquerda. A entrada do clube continua pomposa, como a do clube da minha adolescência. Mesmo não havendo porta, eu tenho uma chave e tento usá-la. Onde? Numa fechadura? O interior continua amarelo e eu falo com alguém. Caminhamos para o fundo, vestidos para uma festa, descontraídos. Estou de volta à garagem, onde o portão continua escandalosamente branco. As pessoas continuam lá, mas há uma sutil diferença na cena. O cachorro não pode sair. Alguém, um homem que se parece com o ator que faz o personagem Doug, da série Atypical, fala conosco sorrindo. E sai. O carro está lá fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário