segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Rock Werchter 2009 ou quatro dias de shows, sol, calor e muita poeira


Além de alguns dos melhores shows da trip de junho/julho passados, o Rock Werchter foi responsável por outros momentos interessantes, como o da apresentação de Emilíana Torrini e da dos americanos ensandecidos do Yeah Yeah Yeahs (para os quais, infelizmente, eu não tinha mais forças; vi o show do lado de fora do cirquinho e acredito que isso acabou contribuindo para que os caras não entrassem na lista dos melhores shows da viagem).

Yeah Yeah Yeahs

Também vimos Regina Spektor e Elbow, que decepcionaram um pouco, e Placebo, The Killers e Franz Ferdinand, cujos shows surpreenderam.

Regina Spektor

Placebo

Franz Ferdinand

Se, por um lado, o Werchter contribuiu para a lista dos melhores shows da viagem (aqui e aqui), por outro, proporcionou todo o material para a dos piores. No caso, os vencedores da categoria de shows mais chatos da trip foram Coldplay e Oasis, nessa ordem. Tudo bem, não gosto de nenhuma das duas bandas, mas juro que estava com boa vontade. O Oasis começou bem e a primeira meia hora teve um quê de Rolling Stones que me deixou esperançosa (chegamos a comentar, eu e o Carlos, que os caras estavam mandando bem e tal), mas, depois, algo misterioso aconteceu e o repertório foi ficando chato, chato, chato, até se tornar tedioso. Já para o Coldplay não houve esperança: a primeira meia hora foi um martírio e, depois disso, entreguei os pontos e peguei o caminho da roça para a cidade, sonhando com minha caminha de hotel e tentando abstrair a música enquanto andava até os ônibus.

Entretanto, feliz ou infelizmente, um festival não é feito só de bandas e, para um estrangeiro, participar da festa significa observar como a população local se comporta e como funcionam as coisas (organização etc.). Tem também o fato de que, em razão do festival desejado, você acaba indo parar em cidades que talvez não viesse a conhecer de outra forma, pois nem sempre são tão turísticos os locais onde os shows acontecem.

Apesar de ter apenas dois palcos, o Werchter é um festival grandão, de cinco dias, que rola na cidade de mesmo nome, numa espécie de zona rural. Há áreas para camping, mas muita gente, como aconteceu comigo e com o Carlos (que foi ao Werchter pela segunda vez), fica em Leuven, uma cidadezinha universitária belga super charmosa (que vale a visita), localizada a uns vinte minutos do local do festival.

Leuven

Como a organização do Werchter é animal, é muito fácil ir de Leuven até ele: basta pegar um dos muitos ônibus gratuitos que saem da estação de trem da cidade, com a finalidade exclusiva de transportar o público do festival. Para voltar, a mesma coisa. Ah, e sem muvuca: assim que os assentos dos ônibus lotam, os motoristas dão a partida. Às vezes, mesmo com bancos vazios, os veículos partem. A foto que você vê imediatamente abaixo foi tirada no primeiro dia do festival, em que a galera estava chegando e embarcando para os campings, o que significa que ela não reflete a realidade diária de quem está em Leuven, pois, no geral, não há filas e, quando há, andam muito rápido.



Ficou empolgado e tá pensando em ir ao Werchter no próximo ano? Okay, eu recomendo, porém, prepare seu espírito guerreiro e tenha em mente o seguinte: cansa. Tudo é muito organizado e o clima, como diz o Carlos, é de paz e amor (uma multidão e nem uma briga sequer), mas você terá que enfrentar, diariamente (caso fique em Leuven, como nós), um trecho a pé de aproximadamente vinte minutos para ir do local onde param os ônibus até a entrada do festival e o mesmo percurso cruel na volta (sendo que a ida normalmente será sob o sol escaldante e, a volta, sob o peso do cansaço e do sono). No primeiro dia até que é tranquilo, mas, a partir do segundo, o bicho começa a pegar. A cada novo trajeto o Carlos dizia que tinha certeza que alguém havia aumentado o caminho, pois é exatamente essa a impressão que se tem.

Falando em sol, o festival acontece durante o verão europeu e, como eu disse aqui, o primeiro dia do Werchter foi um dos mais quentes da minha vida. A galera fica toda espalhada pela grama/terra tomando cerveja, sorvete, raspadinha etc. e grande parte das meninas do local usa tops de biquíni; ou seja, o festival vira uma espécie de praia, só que sem água. E, Deus, como eu desejei um pedaço de mar, uma piscina, uma poça, qualquer coisa onde eu pudesse mergulhar e aliviar o desespero causado pelo calor!


Como em toda praia muvucada, é claro que rola farofa. As muitas barracas de comida ficam o tempo todo lotadas e o público se espalha pelo chão/poeira com suas guloseimas, cujas embalagens acabam ficando por ali mesmo. Daí os meus pedidos contínuos (que foram atendidos) para que as divindades mantivessem a chuva bem longe da Bélgica, pois, embora eu estivesse podre de calor e querendo água, a idéia da lama com o lixo não estava me agradando.


Por último, os banheiros. São muitos e a fila anda rápido (muitas vezes nem há fila), mas, ao mesmo tempo, são químicos e servem milhares de pessoas. Resultado: ficam nojentinhos. Devo ser justa e admitir que já vi banheiros químicos bem mais bizarros que aqueles (rola uma limpeza, uma espécie de sucção dos dejetos não sei quantas vezes ao dia), mas, de qualquer forma, o uso contínuo e diário das casinhas nessas condições acaba embrulhando o estômago. Um dia passa, dois também, mas, a partir do terceiro, enjoa.

Veja, não quero dizer com tudo isso que o Werchter seja uma roubada, porque não é. Ao contrário: é um festival grande e muito bem organizado, com uma produção no mínimo curiosa (onde Nick Cave e Coldplay tocam no mesmo palco), em que o público é feliz e divertido (o telão mostra com frequência as reinações da galera) e a cerveja disponível é belga (infelizmente não é Duvel e companhia, como aconteceu no Gent Jazz Festival, e nem é das mais geladas, mas quebra o galho).

No meu caso, alguns shows inesquecíveis e muita poeira depois, não posso dizer que não volto.

Fotos: Camila Guido e Carlos Soares

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