quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Sweet Lucy


O nome dela é Luz, mas, numa alusão óbvia à Lucy in the Sky with Diamonds, a linda e louca (mais ou menos como a própria Luz) música dos Beatles, começamos a chamá-la de Lucy e não paramos mais.

Apesar do excesso de doçura, seu tamanho desperta a atenção e provoca medo naqueles que não estão muito habituados ao convívio com seres da sua espécie. Nessa hora, o negro aveludado que recobre seu corpo não ajuda a amenizar o impacto e reforça ainda mais o susto dos humanos medrosos.

Aos felizardos que dela se aproximam, oferece lambidas e se deixa acariciar por horas a fio; delicada e ao mesmo tempo tresloucada, dá mil beijinhos na Gigi - em quem, por vezes, acomoda a cabeçorra enquanto dorme durante as viagens de carro -, talvez para se desculpar pelos momentos em que, desajeitada, a aperta contra a parede do elevador ou a empurra sem a menor cerimônia.

Em meio à natureza, enquanto abre caminho nas trilhas ou corre pelo gramado do Recanto Lumiar, Lucy é altiva e destemida, mas, ao entrar em contato com o ambiente urbano, torna-se confusa e medrosa.

Por essas e outras, apesar da saudade e da preocupação que sentíamos, achávamos que o melhor era deixá-la onde estava, longe da cidade e de nós mas perto da natureza e com espaço de sobra para correr e brincar. Grande engano!

Há dois meses, enquanto arquitetávamos as viagens das férias de julho, Lucy adoeceu e, no final da história, o veredicto do veterinário foi basicamente o seguinte: ou ela vive com vocês em São Paulo ou vão acabar sem ela. Opa, como assim? Mas e o medo que ela sente da cidade, e a liberdade da qual ela desfruta vivendo numa chácara? Passar alguns dias num apartamento, okay, mas, ficar a semana toda num espaço restrito, como vai ser para um cachorro do tamanho dela? E se alugarmos uma casa, será que resolve???

Foi assim que a Lucy, uma mistura de Flat-Coated Retriever com Golden Retriever, enorme e frágil, destemida e medrosa e quase enjoativa de tão doce veio parar no centro da cidade grande e, da mesma forma que o seu dono, no centro das nossas vidas, minha e da Gigi.

No começo, um pouco tensos e, no meu caso, angustiada, saímos à procura de casa para alugar, da ajuda de um adestrador e do que mais pudesse amenizar o medo e o suposto desconforto que a Lucy sentia por aqui. Nessas, os dias foram passando, nós (eu, principalmente), relaxando, e a Luz se adaptando. De repente, desviei o foco das minhas neuras e me dei conta de que ela estava ótima no apartamento; logo a seguir, encontramos, casualmente, uma adestradora calma, delicada e atenciosa, ou seja, tudo o que uma cachorra sensível como a Luz precisava!

Com dicas e exercícios simples, não só a Luz, mas eu e o Paulo também estamos sendo adestrados (e até a Gigi entrou na dança, já que costuma participar das aulas). Mais confiante, consigo controlar os surtos de pânico da Lucy e conduzi-la pelas ruas movimentadas sem ser arrastada. Já o espaço restrito do apartamento, acredite, nem sequer chegou a ser um problema, uma das razões pelas quais desencanamos da casa.

Depois de um primeiro semestre tumultuado, é com um sorriso de satisfação que digo que tudo vai bem. Família reunida, projetos e viagens rolando e a primavera chegando. Mas, perto do que diz a cara da Luz ao nos ver (em especial o Paulo, por quem ela nutre uma adoração alucinada) todos os dias, meu sorriso não é nada: mesmo longe das estrelas que enfeitam as noites do Recanto Lumiar, dá para perceber que ela está no céu.

P.S. O encantador de cães, livro de Cesar Millan, não é nenhuma maravilha literária, mas está me ajudando a sacar várias coisas e, consequentemente, melhorando a vida da Gigi e da Lucy. Recomendo!

2 comentários:

  1. Que legal seu novo companheiro, Camila! Esses bichinhos mudam e nos mudam muito, né? A gente acaba fazendo cada coisa por eles... Mas a recompensa é enorme! :)

    Beijos!

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  2. Olá, Camila!

    Pois é, sou louca pelas minhas meninas, a Gigi e a Luz, e faço o que posso para elas estarem sempre bem. :)

    Ambas, por sua vez, vão além do que podem para me dar todo o amor que guardam em si. É um privilégio conviver com elas.

    Beijos!

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