domingo, 11 de março de 2012

Santiago de Compostela de bike - dicas práticas parte I

Trecho do Caminho Francês

Como eu disse aqui, as cicloviagens têm sido uma constante na minha vida e o Caminho de Santiago de Compostela, que eu imaginava um dia fazer a pé, foi, talvez, a mais maravilhosa dessas experiências sobre rodas movidas a energia humana.

Pensando em cumprir o que prometi ao Ari e ao Luciano, companheiros de pedal de Londrina, aí vão algumas dicas e impressões sobre a viagem que eu e o Paulo fizemos em julho de 2011.

Trecho do Caminho Francês

Para começar, há vários caminhos que levam a Santiago de Compostela. A escolha de um deles, bem como do ponto de início da jornada, dependerá do desejo e da disponibilidade de cada um. Nós fizemos o chamado Caminho Francês, tido como o mais tradicional, e iniciamos a bicigrinação em Saint-Jean-Pied-de-Port.  Depois de alcançar Santiago, pedalamos até o Porto, percorrendo também um trecho de um dos Caminhos Portugueses, porém ao contrário.

O primeiro passo foi buscar informações na internet e comprar um guia de viagem. Após uma pesquisa e algumas dúvidas, optamos pelo El Camino de Santiago en tu mochila, de Antón Pombo. Apesar de não ser diretamente voltado aos cicloturistas, o guia traz várias dicas para quem vai percorrer o Caminho de bicicleta, como avisos relativos a trechos onde a bike fica meio inviável em função do terreno. Outros fatores que nos levaram a escolher o guia do Antón Pombo foram o seu peso e tamanho (que compensam o fato da encadernação não ser em espiral). Além disso, os comentários do autor sobre os “atentados” ao Caminho são um show à parte; Pombo é tão fiel e entusiasmado que faz questão de marcar aqueles desvios e construções que são tidos por ele como violações ao Caminho. No final da viagem, estávamos de pleno acordo com suas observações e felizes com a integridade de seus comentários.

Para nos ajudar no percurso de Portugal, utilizamos o El Camino de Santiago Portugués, da El Pais Aguilar, comprado numa livraria de Santiago de Compostela

Outro guia bacana para os peregrinos en bici e que pode ser obtido gratuitamente pela internet é o Passaporte Bicigrin@, que também pode ser adquirido em versão impressa e encadernada de forma bem prática e compacta. Nós o compramos na ACACS-SP – Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, no dia em que fomos até lá para entregar os formulários da credencial preenchidos e obter nossas Credenciais do Peregrino (um dos itens fundamentais para a realização da viagem).

Vale lembrar que eu e o Paulo moramos em São Paulo, onde está localizada a ACACS-SP; se você mora em outros Estados do Brasil, faça uma pesquisa no site da Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago para saber qual é o melhor local para obter a sua Credencial do Peregrino.

Aproveitando a menção à ACACS-SP, a Associação promove palestras sobre o Caminho, algumas em parceria com a Mundo Terra (que, até junho do ano passado, dava desconto para peregrinos nas compras realizadas em suas lojas).

Escolhido o ponto de partida do Caminho, surge a questão do transporte da bicicleta até o local de início da bicigrinação. No nosso caso, desembarcamos em Madri e, no próprio aeroporto, pegamos um ônibus até Pamplona, onde o Juan Gonzalez, um taxista mais que especial, já nos aguardava.

Tanto a passagem de ônibus quanto o transporte de táxi de Pamplona a Saint-Jean-Pied-de-Port já estavam okay antes da nossa chegada.

Compramos a passagem de ônibus pela internet, no site da ALSA. Detalhe: ao realizar a compra, na página de escolha dos assentos, marque a opção Bicicleta em Servicios Adicionales (atualmente, são cobrados dez euros pelo transporte da bicicleta). A compra teve que ser realizada pelo PayPal.

Quanto ao táxi, obtivemos o contato do Juan com um taxista indicado no Passaporte Bicigrin@; como ele não poderia nos levar, sugeriu que escrevêssemos para o Juan, cujo e-mail é icaro111@ozu.es. Deu certo e, no dia e hora combinados, lá estava ele, com sua vã suficientemente grande para transportar duas bicicletas embaladas nos respectivos malas bike, dois ciclistas e seus respectivos pertences.

Durante o percurso, o Juan, sempre sorrindo, nos explicou e contou mil histórias, deu dicas sobre o Caminho, colocou-se à disposição para resolver qualquer problema que tivéssemos ao longo da viagem e pediu para que escrevêssemos assim que chegássemos ao Brasil, para dizer que estávamos bem. Além disso, nos deu a mais preciosa das dicas: “que tal parar em Roncesvalles e deixar a maior parte das nossas coisas lá, na Posada de Roncesvalles”? Explico:

Roncesvalles, nosso destino no dia seguinte, fica entre Pamplona e Saint-Jean-Pied-de-Port (o carro segue por uma estrada diferente daquela por onde viajam os peregrinos), ponto inicial da nossa bicigrinação. De Saint-Jean a Roncesvalles, a ascensão é de aproximadamente mil metros em vinte e oito quilômetros. Ou seja, no dia seguinte, teríamos não uma subida, mas um paredão pela frente. Acatamos a sugestão do Juan e deixamos algumas coisas em Roncesvalles. Sugiro, meu caro bicigrino, que, sendo possível, você deixe não algumas, mas quase todas as suas coisas lá. Leve só o essencial e não subestime os Pireneus!

Trecho do Caminho Francês: Saint-Jean-Pied-de-Port a Roncesvalles

Ao chegar em Saint-Jean, por volta das onze e meia da noite, Danièle, a dona do Auberg du Pèlerin, o excelente e mais que recomendável albergue que tínhamos reservado, já nos aguardava na porta. Como havíamos dito que chegaríamos por volta desse horário e que estávamos preocupados com o barulho que inevitavelmente faríamos, ela, além de ficar nos esperando, nos alojou num quarto coletivo, porém vazio. Ou seja, éramos os únicos ocupantes da habitação e não atrapalhamos os peregrinos que já estavam dormindo. No dia seguinte, depois do ótimo café da manhã, desembalamos e montamos as bikes no quintal do albergue, com toda a tranquilidade do planeta, e demos início ao nosso pedal peregrino.

O restante do nosso Caminho (incluindo outros aspectos práticos) você acompanhará nos posts que estão por vir e, não é por nada não, mas vale a pena nos acompanhar!

P.S. Fotos: Pepê Esteves e Camila Guido.

10 comentários:

  1. Muito legal o seu artigo!
    Parabéns! podemos divulga-lo com o link para o seu blog.? Abraços e Bom caminho!

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  2. Olá, Paulo!

    Muito obrigada pelo elogio. :) Claro que pode divulgá-lo; espero que este post e os que estão por vir sejam úteis aos futuros peregrinos/bicigrinos.

    Um forte abraço e Buen Camino!

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  3. Adorei a introdução e estou doida para ler a continuação! Nunca viajei de bicicleta, mas morro de inveja quando vejo ciclistas nas estradas. Quem sabe seus posts não sirvam como incentivo para eu começar? ;)

    Beijos!

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  4. Demorou, Camila!! Você tem bike? Que tal um rolezinho pelas redondezas da sua cidade no próximo final de semana, assim sem compromisso, passeando? Quando você se der conta, vai ver que já rodou muito mais do que imaginava... Para começar, é só querer. E andar de bicicleta é sempre uma espécie de retorno à infância. Lúdico total!

    Precisando de ajuda (mesmo que à distância) é só gritar, ops, escrever!

    Um beijão!

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  5. Camila,

    pode passar seu email?

    Quero muito trocar umas ideias com você. Pelo que vi fizeram exatamente o caminho que quero fazer, até porto.

    Se puder me ajudar vou adorar.

    Ada

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  6. Olá, Ada!

    Meu e-mail é o camila451@gmail.com; será um prazer ajudá-la!

    Grande abraço,

    Camila

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  7. Olá, Camila. Em primeiro lugar, parabéns pelo Blog. Já estou nos preparativos para fazer meu caminho de bike em outubro. É sempre bom conhecer as experiências de quem já esteve lá. Acredito que deve ser uma experiência única. Meu objetivo é chegar a Finisterre. Vi seu e-mail no post anterior. Qualquer hora dessas posso trocar ideias com você sobre o caminho? É isso. Mais uma vez, parabéns pelo blog. Abs

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  8. Olá, Rodrigo!

    Obrigada e é claro que podemos trocar ideias sobre o Caminho! Será um prazer compartilhar minhas impressões com você.

    Sem dúvida, o Caminho de Santiago é uma experiência muito singular. Eu fui surpreendida em todos os aspectos e com frequência recordo fatos que vivi e lições que aprendi durante o Caminho. Vale a pena!!!!!!

    Um grande abraço,

    Camila

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  9. Oi Camila,
    Muito bom teu relato. Embarco dia 03/4/14 para Madrid com minha magrela e por mais que tivesse vasculhado muitos sites, não tinha encontrado dicas diretas sobre o transporte até SJPP.
    Não somente estas dicas, mas teu blog como um todo, é show de bola!
    Abs

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    1. Olá, Ramon!

      Que bacana saber que minhas dicas foram úteis para você. :)

      O Caminho de Santiago foi uma das melhores viagens da minha vida e você certamente vai curtir horrores.

      Muito obrigada pelo elogio, um grande abraço e, claro, buen camino!

      Camila

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