sábado, 29 de julho de 2017

Guido, ops, Gilmore Girls

Sempre que acessava a Netflix eu acabava notando com alguma curiosidade o título Gilmore Girls entre os tantos outros que haviam por ali mas foi somente quando li uma matéria que continha a lista de livros que Rory havia lido ao longo das várias temporadas da série que resolvi assisti-la. Afinal, que roteiro era aquele que incluía uma personagem que lia compulsivamente?

Logo após assistir aos primeiros episódios comentei com a minha mãe que estava gostando muito da série e poucos dias depois ela me contou que também havia começado a assistir Gilmore Girls. A partir daí deixamos os filmes temporariamente de lado e nos fins de semana em que estávamos juntas passamos a nos dedicar de forma quase compulsiva ao que agora chamávamos de "o nosso programinha".

Certa noite estávamos confortavelmente acomodadas em frente à televisão quando em razão de alguma cena muito característica simultaneamente exclamamos "Somos nós!". A semelhança entre mãe (Lorelai Gilmore) e filha (Rory Gilmore) fictícias e mãe e filha reais era tão grande que não pudemos deixar de comentar e, claro, de dar boas risadas.

O fato é que sou mesmo muito parecida com a Rory mas a Mirian é a Lorelai quase escrita e retratada.

Querida pelos meus amigos desde a infância e hoje festejada pelas minhas amigas ela sempre foi a mãe da qual ninguém, especialmente eu, precisava esconder nada; ela sempre tomou minhas dores nos episódios que envolveram corações partidos e crises de desânimo; ela sempre me motivou, apontando em mim qualidades e habilidades das quais muitas vezes duvidei e ainda duvido; ela sempre me deu todas as oportunidades para que eu pudesse fazer o melhor de mim; ela sempre me considerou um ser humano capaz de entender tudo e me ensinou bem cedo o que eu mais precisava para sair pelo mundo; ela nunca exitou em me dizer não; ela sempre me mostrou meus piores erros mas sempre os respeitou e tolerou; ela sempre esteve lá para me ajudar a sacudir a poeira quando os meus erros, aqueles que ela havia apontado, me fizeram cair; ela sempre me disse com alegria que "a vida é boa" e me provou que é sempre possível recomeçar até acertar. É com ela que até hoje eu falo quando tenho que tomar uma decisão importante e é nela que eu penso quando acordo com medo da vida. Eu não tenho a mesma coragem mas o exemplo que ela me dá sempre me movimenta.

Até os livros, meus grandes amigos desde a infância, têm o dedo dela. Foram incontáveis as histórias que ela leu para mim e os livros que estiveram ao meu alcance, sem censura, desde sempre; igualmente inumeráveis as vezes nas quais olhei para a minha mãe e a vi absorta num romance, o que me instigava a querer ler também. Sem perceber ela me deu o exemplo e talvez para mim o afeto pelos livros tenha até hoje alguma relação com o amor e a admiração que eu sinto por ela.

Amor esse que ficou entranhado nas conversas que nós tivemos sentadas à mesa da cozinha com alguma guloseima entre nós, no meu quarto apoiadas cada uma em um canto da cama ou à mesa de algum café ou restaurante, de maneira muito semelhante à que se vê em determinadas cenas de Gilmore Girls e que não por acaso me dão a imediata sensação de conforto e bem-estar.

Assim como a série que teve um revival recente produzido pela Netflix e que se eu não estiver tão mal informada talvez tenha mais uma continuação, os episódios das nossas vidas, a minha e a da minha mãe, não só ainda estão sendo escritos como terão que ser adaptados ao formato da maturidade. Por enquanto posso adiantar apenas que estamos bem em nossos papéis. Mais que isso, como dizem por aí, é spoiler.

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