quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Escrevo como quem manda cartas de amor

Você escreve tão bem; se estivéssemos nos tempos delas, eu gostaria de receber cartas escritas por você vez ou outra.

O significante fica ali, tamborilando, e, passados alguns dias, percebo que nunca deixei de viver como nos tempos das cartas de amor escritas com tinta de caneta em folhas de papel e enviadas, ou não, aos seus destinatários, em envelopes que percorriam, no tempo e no espaço, dias e quilômetros de distância. A diferença é que agora, como tudo o mais, os destinatários são difusos.

Escrevo cartas a quem quiser lê-las, correspondências entre o meu e o mundo de fora de mim apontadas em códigos aos quais damos o nome de palavras. E são talvez todas elas cartas de amor na medida em que dão para o leitor exatamente aquilo que me falta.

Uma amiga certa vez me disse, após ler um dos meus textos, que eu era corajosa. Naquele momento eu não entendi muito bem o que aquilo significava, mas agora penso que escrever, assim como amar, de fato é um ato de coragem.

Sobre as cartas de amor, Fernando Pessoa (ou Álvaro de Campos), suponho, sempre soube disso.


P.S.: O título deste texto é um verso da música Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, composta por Emicida e Vinicius Leonard Moreira.

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