quinta-feira, 8 de abril de 2021

Sonhos da quarentena ou Édipo

As pessoas gritam e erguem furiosamente os braços. Há gente na calçada e no meio da rua e placas sendo erguidas na frente daquele que era o prédio da prefeitura. De São Paulo? Eu me aproximo do portão de grades e olho mais detidamente a fachada do prédio, não sem notar, num relance, a corrente com cadeado que mantém unidas as duas folhas do portão. O que significam o som e a fúria ao meu redor? O cadeado está trancado? Quando dou por mim, havia acabado de colocar o pé no chão. E agora?

---

A casa dela, eu não a reconheço, e o lugar para aonde vamos é distante e movimentado. Você consegue ir? Sim, claro, eu respondo. As pessoas andam de um lado para o outro e nós paramos por um momento numa elevação que fica sob uma cobertura de alvenaria que nos oferece uma boa visão do entorno. A temperatura, os cheiros, os sons e até algumas cores e formas são os mesmos do lugar em que ficava a lanchonete da minha escola primária. Avistamos um amigo por ali vestindo amarelo. Falamos com ele? De repente eu me pergunto se coloquei o pé no chão. Eu não posso colocar o pé no chão, eu não posso colocar o pé no chão... Vamos, tem a festa! Quando entramos na casa dela eu penso que deixei S. sem água e imediatamente o vejo beber a água misturada com espuma de shampoo que corre pelo chão de uma estrutura azulejada em forma de quadrado que toma quase todo o espaço da sala. Eu o vejo, eu falo, mas ele parece não me perceber ali. Festa? Mas se eu não posso colocar o pé no chão... 

---

Durmo e quando acordo vejo que os pontos ficaram quase todos sobre o lençol branco. São pedaços de linhas escuras, espessas e brilhantes que se desprenderam de mim enquanto eu dormia e movia propositadamente meu pé contra a cama. Dormindo, eu via as linhas se desprenderem com uma alegria infantil e pensava, sorrindo, que agora faltaria pouco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário