terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Em Bruges

Foto: Camila Guido/ Bruges, Belfort

Faz muito calor em São Paulo e, embora noite e com as janelas escancaradas, eu e a Gigi, duas almas idosas e rabugentas, estamos, como sempre, nos sentindo um pouco desconfortáveis com a temperatura. Olho para a Gigi deitada sobre o sofá com os olhos fechados, a barriga para cima e as patas dobradas junto ao corpo num estado de profunda abstração e tenho certeza que, em poucos segundos, ela vai começar a levitar. Ótimo truque para focar em outra coisa que não seja o calor. Eu, por outro lado, estava entre ler e ver um filme, quando senti que talvez escrever fosse uma opção melhor, pois a tarefa exigiria de mim uma espécie de abstração e concentração semelhantes às da Gigi no momento. Aí, quem sabe, o calor ficaria em segundo ou em terceiro plano e eu o esqueceria por algum tempo.

Além disso, em um dos primeiros posts deste blog, eu prometi que divulgaria, além de dicas de sites e informações que foram úteis para mim antes e durante meu rolê pela Europa, alguns relatos baseados nas minhas impressões e experiências e acho que já é hora de começar a falar um pouco sobre isso. Senão pela promessa, também pelo fato incontestável e cada vez mais evidente de que talvez a melhor parte do meu coração tenha ficado perdida por lá.

Dentre as cidades que me arrebataram, algumas me deixaram sem fôlego, sem fala e com taquicardia. Não foi o caso de Bruges (Brugge), na Bélgica, que, embora tenha entrado na lista das cinco cidades mais lindas e legais que eu já conheci, ao contrário de algumas outras, me conquistou também pela sua beleza, mas, principalmente, pelo seu jeito discreto, calmo e acolhedor.

Bruges fica a mais ou menos uma hora de Bruxelas de trem e, dizem, é a cidade medieval mais bem conservada da Bélgica. Consultando a quinta edição do Europe on a Shoestring, da Lonely Planet, acabo de descobrir que “a sua reputação como uma cidade perfeitamente preservada é parcialmente fabricada – boa parte da cidade foi reconstruída nos séculos XIX e XX para refletir o período medieval” (tradução livre). Fabricada ou não, Bruges é linda.

Para se ter uma idéia da cidade, uma boa pedida é assistir ao filme Na Mira do Chefe (In Bruges, 2008), todo rodado em Bruges e com muitas tomadas externas. Vi o filme após ter ido e, como já disse a alguns amigos, caso não tivesse estado lá, teria achado que tudo aquilo era cenário. Não é!

Foto: Camila Guido/Bruges

Em Bruges, chegamos na estação de trem e fomos caminhando em direção às torres (de lá se veem três). Mais ou menos dez minutos de caminhada por ruas lindinhas e encantadoras e já estávamos na catedral; mais um pouco e deparamos com um dos canais (Bruges tem diversos canais). Depois, chegamos à praça, onde está a Torre Belfort, cujos 366 degraus levam a uma vista incrível da cidade (em Na Mira do Chefe é possível ver o interior da Belfort e também ter uma idéia do que se vê quando se está lá em cima).

Trezentos e sessenta e seis degraus para subir mais trezentos e sessenta e seis para descer... Bom, setecentos e trinta e dois degraus após ter tomado apenas um chocolate quente em Bruxelas, sentamos, com fome e com sede, em um dos cafés da praça e acompanhamos nosso desjejum com Duvel, a melhor cerveja do mundo (na minha opinião, sempre exagerada, mas é). Não fosse suficiente, fomos atendidos por um garçon extraordinariamente simpático. (Sobre os belgas, sua cerveja e seu chocolate, aguardem os próximos posts. Por enquanto, basta dizer que eles são o povo mais bacana, que faz a melhor cerveja e o chocolate mais incrível. Do planeta.)

Felizes após uma ótima refeição e três ou quatro garrafinhas de Duvel, andamos a esmo pelas ruas de Bruges, encantados pelas construções medievais e seus reflexos nos belos canais, pela vista da Belfort, pela ótima música que vinha de caixinhas de som discretamente colocadas nas paredes de algumas ruas, pelas lojas de chocolates. Hora de ir embora ou não chegaremos a tempo de pegar nosso trem em Bruxelas. Foi aí que lamentamos, e muito, não poder passar aquela noite lá. Havia anoitecido e, quase chegando à estação de trem, nos viramos em direção à cidade e avistamos as três torres iluminadas. Senti uma pontada no peito, como se estivesse me despedindo de alguém muito querido. Bruges é assim, querida.

P.S.1 Para fotos de Bruges, clique aqui.

P.S.2 Para trens na Bélgica, clique aqui.

Um comentário: