Caí na água feito um peixe é uma frase que fica batendo na minha cabeça como um martelo empunhado por uma mão sem corpo numa cena de um filme surrealista. A tela do cinema é um mundo à parte, o púlpito de um templo onde o tempo se dissolve e o pensamento encontra outras dimensões. O retângulo da piscina é um universo paralelo como a tela e dentro dele a vida entre bolhas e braçadas é azul, o tempo é contado só do lado de fora e o corpo é o de um astronauta no espaço depois que um osso é lançado ao céu e o foco da câmera recai sobre ele.
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Interior do Museu Lumière
Milênios depois, eu agora uma mulher adulta, ao resolver brincar, no mundo real, de viver outra vida dentro da minha, topei com o Instituto Lumière, a antiga casa dos irmãos Lumière (Louis e Auguste), responsáveis, digamos assim, pela invenção do cinema (e por muitas outras, pois eles eram inacreditavelmente versáteis). Isso aconteceu quando escolhi Lyon como o lugar para um breve intercâmbio. Confesso que, a princípio, eu não sabia da existência do Instituto, assim como confesso que a escolha foi feita a partir de dados baseados pura e exclusivamente na minha intuição (o que, no meu caso, não é necessariamente garantia de sucesso).
O fato é que, assim que o descobri, antes mesmo de viajar, comecei a me preparar para a visita, a qual aconteceu logo nos primeiros dias da minha estada, tamanha era a minha ansiedade.
Logo de cara, ao sair do metrô, deparei com inscrições que diziam “o cinema nasceu em Lyon” e “neste quarteirão os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo”. Fiquei algum tempo olhando para cima, tirando fotos, e então me dei conta de que estava numa praça e que nela havia uma feira em pleno andamento, de maneira que, ao invés de me dirigir imediatamente para a entrada do Museu Lumière (o Instituto é todo um complexo que inclui museu, cinema, biblioteca, café etc.), fui obrigada a me deter na feira para adquirir bens comestíveis que aumentariam ainda mais o volume que eu carregava nas costas, já que eu não os comeria imediatamente. Mas isso era só um detalhe pois, uma vez na França, eu sabia que não deveria jamais cometer o grande equívoco de não priorizar a comida. Pois bem, atravessei a feira e, ao final dela, abastecida com queijos e pães, descobri, ao me virar na direção da calçada que abrigava o museu, que a minha visita seria novamente adiada por mais uma parada gastronômica, já que, à minha frente, as palavras Maison Vessière grafadas num vidro que me permitia entrever a promessa dos sabores que aquele nome carregava enviavam estímulos irresistíveis ao meu cérebro. Sucumbi sem grandes resistências e saí da loja com itens para o jantar, sobremesa incluída.
Ao sair da estação de metrô Monplaisir - Lumière
"Neste quarteirão os irmãos Lumière inventaram o cinematógrafo" (Tradução livre)
Interior da Maison Vessière
Entrada principal do Instituto Lumière
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"No Lumière, não é a história que é mostrada, é a vida. E a vida, a vida é algo profundo. É por isso que os filmes são de tamanha importância: eles abrem a porta para a nossa imaginação. É o que nós gostamos de chamar de obra de arte." Jean Renoir (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
Miniatura do "Castelo Lumière" (Interior do Museu Lumière. Ver legenda da próxima foto.)
"Dominando majestosamente o bairro Monplaisir, esta casa é o último testemunho (com o Hangar) do que foi a vida da família Lumière no começo do século. Em razão do seu tamanho e do prestígio de seus ocupantes, os habitantes do bairro a chamavam de "Castelo Lumière". Ela era para eles o reflexo do sucesso internacional da família. Mescla de vários estilos, é a diversidade de materiais que permite a sua policromia. Última criação arquitetural de Antoine, ele a habita por menos de 10 anos. Muitos empregados estiveram a serviço do casal Lumière. No último andar desta grande casa, se localizava o atelier de pintura de Antoine, com sua vidraça de 8,30 metros de altura (atualmente a Biblioteca Raymond Chirat)." (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
Outras invenções dos irmãos Lumière, como uma prótese de mão articulada. (Interior do Museu Lumière)
"A Villa Lumière foi construída entre 1899 e 1901 por Antoine Lumière, pai de Louis e Auguste. Dos anos 1920 aos anos 1970, ela abrigou a sede social dos estabelecimentos Lumière, depois os da sociedade fotográfica Ciba-Ilford, que se tornaria sua propriedade. Em 1972, a Villa é adquirida pela cidade de Lyon, que seis anos mais tarde inaugura a Fundação Nacional da Fotografia. Uma primeira restauração da propriedade é firmada. O Instituto Lumière é criado em 1982, presidido pelo cineasta lionês Bertrand Tavernier e dirigido por Bernard Chardère." (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
"Cronologia humana da invenção do cinema" (Ver foto abaixo. Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
Genealogia da família Lumière
"Tudo começa com as lanternas mágicas" (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
"Do pré-cinema ao Cinematógrafo
"O cinema se inscreveu num cruzamento de caminhos de uma série de descobertas em disciplinas como a ótica, a percepção do movimento, a mecânica e a química. No século XIX, cada invenção, assinada por Plateau, Marey, Muybridge, Reynaud ou Edison, vem enriquecer um fundo comum de reflexão sobre a filmagem e a projeção. Em 1895, Louis Lumière vai consolidar e completar esses trabalhos com uma invenção na confluência de todas essas inovações precedentes: O CINEMATÓGRAFO." (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
Cinematógrafo nº 1 (Interior do Museu Lumière)
"O Cinematógrafo nº 1
Este aparelho projetou os 10 filmes da primeira sessão de 28 de dezembro de 1895 em Paris."
(Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
(Interior do Museu Lumière)
(Interior do Museu Lumière)
(Interior do Museu Lumière)
"A primeira sessão do Cinematógrafo Lumière (Salão Indiano do Grand Café, 28 de dezembro de 1895)" (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
Miniatura do Salão Indiano do Grand Café (Interior do Museu Lumière)
"Câmera fotográfica de viagem para placas 18x24 cm - Aproximadamente 1900" (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
"Prensa para fabricação de placas Authocromes - Aproximadamente 1906" (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
(Interior do Museu Lumière)
(Interior do Museu Lumière)
(Interior do Museu Lumière)
"Auguste Lumière mostra a neve a um de seus dez leões." (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
Eu brincando com um espelho no interior do museu
"Os irmãos Lumière eram um pouco como crianças. Que imagens seriam mais autênticas que as primeiras? São imagens nas quais se pode confiar. Nenhuma manipulação, nenhuma contaminação, nada além do maravilhamento de as ter podido criar. É um pouco do que eu gostaria de capturar, o gosto do maravilhamento, eu gostaria que se tentasse lembrar dos primeiros gestos." Wim Wenders, Lyon, 1991 (Interior do Museu Lumière. Tradução livre.)
"Inventado em 1834, o zootropo prefigura o cinema pois permite colocar em movimento imagens fixas." (Ver vídeo abaixo. Interior do Museu Lumière. Tradução livre e apenas parcial do texto.)
O zootropo em ação
Vista atual da casa da família Lumière a partir de um ponto da Praça Ambroise Courtois
Exposição de fotos de Wim Wenders em uma das salas do Instituto Lumiére
Exterior de um dos cinemas Lumière que não se localiza no bairro de Monplaisir, onde está o Instituto
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