Na próxima terça-feira, 08/04, o Cine Café do Sesc Sorocaba exibe, como parte da programação de uma mostra que coloca em cena narrativas sobre o envelhecimento, o filme Dor e Glória (2019), de Pedro Almodóvar.
Com 186 indicações, o filme teve 72 vitórias em premiações diversas, incluindo o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes de 2019 para Antonio Banderas pela interpretação do personagem Salvador Mallo, alter ego de Almodóvar na película.
Salvador é um homem na casa dos 60 anos, um cineasta que se vê diante de uma estagnação provocada por diversas razões, dentre as quais uma grave operação nas costas que lhe causa dores atrozes. Se por um lado Almodóvar afirma que Dor e Glória não é autoficção, por outro, deixa claro que o filme partiu de si mesmo, pois não haveria roteiro se ele (assim como Salvador) não tivesse sido operado das costas e vivido as consequências dessa cirurgia.
No prólogo do roteiro do filme (publicado e disponível para compra), o qual também pode ser lido em matéria publicada no El País, o diretor escreve: “Dor e Glória é um filme baseado na minha vida? Não, e sim, absolutamente. (...) Quanto às minhas relações com os outros, Dor e Glória não é um filme no qual se procura quem se esconde por detrás dos personagens. Claro que parti de sentimentos próprios reais, mas me serviram para escrever a primeira linha. O resto é inventado, imaginado, impulsionado pela força da ficção. Tudo no meu cinema é representação, sempre fugi do naturalismo, não pretendo que meus filmes pareçam reais. Mas pretendo que o espectador se reconheça neles.”
E é exatamente isso o que acontece com Dor e Glória, ou pelo menos o que aconteceu comigo quando o vi pela primeira vez (felizmente na telona do cinema, o que faz toda a diferença), no ano em que foi lançado por aqui. Saí do cinema aos prantos, sem conseguir conter os soluços e sem entender o que estava acontecendo comigo. Somente muito depois compreendi: o filme falava sobre a passagem do tempo, sobre envelhecer. Mas não apenas, e só agora entendo isso também. Dor e Glória é sobre dor, mas também, e principalmente, sobre desejo. Sobre a escrita da vida e do cinema. Sobre solidão e estranheza. Sobre amores e sobre a importância de amar. É sobre aceitar a dor e a glória de existir em meio à transitoriedade, sobre aceitar a passagem do tempo e o que ficou para trás.
Ainda que eu tenha assistido em looping numa madrugada ao A Flor do Meu Segredo, que eu tenha ido ao cinema três vezes numa única semana para ver Fale com Ela e que todos os outros filmes de Pedro Almodóvar tenham influenciado os meus pensamentos e escolhas estéticas e feito do mundo um lugar mais acolhedor para a minha própria solidão e estranheza, Dor e Glória segue sendo para mim, desde que o assisti, o maior (ou pelo menos o mais maduro) e mais generoso filme de Almodóvar.
A sessão do dia 08/04 terá início às 19h, no teatro do Sesc Sorocaba. Os ingressos são gratuitos e, após a exibição, o filme poderá ser discutido ao longo de um bate-papo.
Boa tarde Camila! Legal saber que esse filme vale a pena assistir. Porém, acredito que terei que comprá-lo pois nao sei se consigo ir até Sorocaba para assisti-lo. Nunca assisti a filme algum de Almodóvar e espero gostar. Obrigado pela dica!
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