Noite que eu olho pela janela e que é feita de estrela e de céu azul-marinho. Às vezes é noite com lua que faz do mundo o meu quarto iluminado pela luz de um abajur de proporções tão indivisíveis quanto as dos prazeres que animam meu animal noturno.
Noite que é o silêncio que me nega o dia e que me separa da dimensão onde eu não sou.
Noite que carrega o medo atávico da morte e o alívio da entrega.
Noite que projeta sonhos que são um e que são o que somos sem o sabermos.
Noite que é a da infância quando os olhos se fechavam mas os ouvidos não. O clique do interruptor, os passos da Aruê, o girar das rodas dos carros nos paralelepípedos da rua que não era a minha.
Noite que é a luz das palavras ditas ao redor das mesas e no meio da cama e daquelas que escorrem dos livros abertos sobre travesseiros.
Noite que é mais do real que a própria realidade.
Noite que vejo entrar pela janela e que me embala até a hora do não ser.
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